Durante a decisão acalorada do Campeonato Sergipano de Futebol, o personal trainer João Antônio Trindade Bastos, de 23 anos, viveu um momento de extrema humilhação diante de milhares de espectadores. Em um erro grotesco do sistema de reconhecimento facial, João foi abordado e detido pela polícia, sob a suspeita infundada de ser um criminoso.
O cenário da Arena Batistão, em Aracaju, estava repleto de dez mil torcedores empolgados, enquanto o Confiança e o Sergipe travavam uma batalha intensa. No intervalo do jogo, João, torcedor fervoroso do Confiança, foi surpreendido por policiais militares, que o retiraram da arquibancada.
“Estava mexendo no celular, não tinha mais ninguém passando pela escada, quando eu percebi os policiais se aproximando, dei passagem. E aí, foi quando o primeiro já veio, pegou no meu braço, disse para eu não reagir, para eu levantar, que eu iria descer com eles”, contou.
Conduzido até uma sala para interrogatório, João foi confrontado com a alegação absurda de que um sistema de reconhecimento facial o identificara como alguém com mandado de prisão em aberto.
“Com muito medo, frustração e constrangimento, fui pressionado a ‘falar a verdade’. Mas a verdade era que eu não tinha feito nada de errado”, desabafou João, relembrando os momentos angustiantes que enfrentou.
A situação só se esclareceu quando João apresentou sua identidade, confirmando sua inocência. No entanto, o dano emocional já estava feito, e João descreveu o momento em que retornou à arquibancada, devastado pelas lágrimas.
“Sentado na arquibancada, desabei a chorar. Passei mais ou menos 35, 40 minutos do segundo tempo em prantos”, revelou.
Diante desse episódio de racismo estrutural e negligência policial, o advogado criminal João Gabriel Lima anunciou que buscará reparação tanto moral quanto material para João, que não foi apenas uma vítima de um erro de procedimento, mas sim de um sistema profundamente enraizado de discriminação racial.
Este incidente, além de evidenciar a fragilidade dos sistemas de reconhecimento facial, destaca a necessidade urgente de se abordar o racismo sistêmico que permeia nossa sociedade.
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